“A Noite Amarela” de Ramon Porto Mota (2019)

Rafael Salles
2 min readOct 3, 2021
Poster do filme

Um horror existencial, onde a grandeza habita no vazio pautado entre o mágico e a cosmicidade. Há uma escassez de recursos e efeitos, que sob uma ótica “blockbusteriana” estadunidense poderia ser “melhorada” com o uso de CGI, telas verdes e outros materiais; mas aqui, Ramon Porto Mota faz seu trabalho impecavelmente na falta deles. Remetendo ao vazio bressoniano e encanto que vai de Lynch a Mojica Marins juvenil, o thriller paraibano faz seu nome pela simplicidade que foi proposta: uma despedida pós-ENEM que acaba mal, um terror ambientado numa casa de praia ao litoral. O Império do Desejo family friendly”, que resgata a raíz do horror brasileiro e nele cria seu próprio caminho: o monstro não se vê, mas o medo paira por toda a película. Onde está ele? Dentro de nós? No subjetivo, pois nada mais aterrorizante que ser um adolescente a entrar na fase adulta no Brasil? Para essas e outras perguntas, pouco importa a resposta pois ela é um pouco de tudo e nada ao mesmo tempo. É na falta de respostas, no “aberto ao público”, na ausência de uma produção mastodôntica – em contraponto com diversas obras, estas quase unanimemente estadunidenses, que estampam bilheterias e ocupam as mesmas salas de cinema – e no simples que habita todo o poder e riqueza do longa: o audiovisual brasileiro respira a sua maneira, e surpreende até quando não se havia mais surpresas para serem mostradas.

É o It Follows que deu certo.

--

--